Nascida em Araranguá, Santa Catarina, e formada em Jornalismo na Universidade Estadual de
Andrea Ferraz Mesquita
Londrina no ano de 1995, Andrea Ferraz Mesquita, 38 anos, é jornalista e trabalha no jornal de
Americana, São Paulo, O Liberal, há 3 anos e 8 meses. Residente do município de Piracicaba, ela trabalha na parte dos suplementos impressos (moda, beleza, decoração, adolescentes, crianças, comportamento, revistas, saúde, economia, cidades).
O Liberal é editado no município de Americana, São Paulo, e tem 58 anos de história. Fundado por Jessyr Bianco, Romeu Mantovani e Fausto Montovani, é o jornal mais antigo da cidade. Além de Americana, também circula nas cidades de Santa Bárbara d’Oeste, Nova Odessa, Sumaré e Hortolândia.
Jornal Expresso: Porque você decidiu ser jornalista?
Andrea: Eu sempre quis ser jornalista, nunca me vi fazendo outra coisa. Desde pequena eu gostava muito de escrever, e sempre quis ser jornalista de impresso. Eu lembro quando eu tinha 10, 11 anos e me perguntavam ‘O que você vai ser quando crescer?’, ‘Ah, eu vou ser jornalista’, ‘Você vai trabalhar na Globo?!’, e eu falava ‘Não, eu vou escrever’. Eu sempre gostei muito de escrever, e eu queria casar o fato de eu gostar de escrever com alguma profissão. E a única profissão era Jornalismo. Eu nunca me vi fazendo outra coisa.
JE: O que você acha sobre os avanços tecnológicos dentro do jornalismo?
A: Eu não sou da opinião de que a internet vai acabar com o jornal impresso, nem com o do rádio ou da TV. Eu acho que cada um tem o seu nicho. O tempo está passando, então os mais jovens querem tudo online, não querem pegar o jornal e ler. Mas ainda tem sim espaço para todas as mídias. É muito bom ter o jornalismo online, com notícias praticamente simultâneas ao que elas estão acontecendo, mas, ao mesmo tempo, essa rapidez, que existe hoje por causa da tecnologia, leva muitos erros. Então eu acho que ainda estamos naquele caminho do erro e acerto. Porque quando você tem pressa de apurar alguma coisa, como acontece no jornalismo online, você dá uma informação errada, muitas vezes você tem que fazer um desmedido. Essa necessidade da rapidez da informação está deixando de lado a precisão da informação. Já no jornalismo impresso você tem mais tempo, você apura e mesmo assim há erros. Então imagine, se você tem o dia inteiro para apurar uma matéria, e ainda sim há erros, ou numa revista que você tem a semana inteira, e ainda sim há erros, imagine uma coisa de 5, 10 minutos para apurar. Eu acredito sim que há espaço para todas as mídias. Em termos de Brasil, o acesso ainda é muito restrito. E eu acho que as tecnologias vieram pra somar e não pra tirar lugar. Eu acho, também, que quem está na área tem que se atualizar em relação a isso, não pode desprezar esse tipo de tecnologia. Eu acho que elas caminham juntas, hoje.
JE: O que você acha da lei que põe fim na obrigatoriedade do diploma de jornalismo? Você concorda?
A: Não, eu não concordo. Eu acho que você dizer que ‘Ah, qualquer pessoa pode escrever’, eu acho que assim, um advogado pode escrever um artigo sobre direito, um dentista pode escrever um artigo sobre saúde bucal, mas dificilmente eles vão fazer a apuração. Ser repórter, de qualquer área, envolve muito mais do que apenas escrever. Ninguém senta e escreve. Você tem que apurar, tem que levantar os fatos, tem que entrevistar, tem que ir no lugar.. Quer dizer, tem todo um trabalho que é o profissional da área que sabe. Todo mundo sabe que essa campanha foi feita por ‘n’ razões. Já é uma classe desunida, os jornalistas são desunidos. Tanto é uma classe desunida que nós não temos um piso salarial legal. Por isso que eu falo que você tem que gostar muito: você não vai ganhar muito, não é uma classe favorecida, é uma classe onde ninguém se une, os sindicatos – na minha opinião – são totalmente inoperantes, ou seja, nós não temos força. Caiu o diploma, mas pegue qualquer anúncio da Folha pra ver o que ela exige para que se possa trabalhar lá: no mínimo pós-graduação. Então caiu o diploma, mas não mudou muita coisa. Claro, vai ter muito jornal, rádio, de fundo de quintal que vai pegar qualquer um e colocar lá, pagar um salário baixo. Só que as pessoas esquecem que um salário ruim demanda num trabalho ruim. Uma coisa é: eu sei que o meu piso é ‘x’, então eu estar nesse piso e fazer um trabalho bem feito. A outra coisa é: eu vou me sujeitar a trabalhar recebendo metade do meu piso? Que é o que acontece com essas pessoas que estão querendo ser jornalistas. Isso é uma briga política, com a qual eu não concordo, e a maior prova de que não mudou muita coisa é porque os bons órgãos de comunicação continuam exigindo profissionais formados.
JE: O que você acha do jornalismo digital e da credibilidade dada a ele?
A: Você, na pressa de colocar as coisas online, pode errar. Então eu acho que falta a paciência para apurar os fatos corretamente. Na ânsia de você dar uma informação, você dá a informação errada. Então eu acho que isso depõe um pouco contra, principalmente para as pessoas mais velhas. Por exemplo, meus pais não lêem jornal na internet, tem que ler na folha. Pra gerações acima da minha ainda não é confiável o jornalismo online. Pra minha geração, e principalmente pra mim que trabalho com isso, é confiável sim, mas com ressalva. Pra geração abaixo de mim é 100% verdadeiro. Já se foi colocado notícia falsa na internet que virou verdade! O pessoal está confundindo simultaneidade com descaso, que não é a mesma coisa.
JE: Quais foram às mudanças no jornalismo que você acompanhou? Qual evolução você achou mais significativa?
A: Bom, eu cheguei a trabalhar com máquina de escrever, por incrível que pareça. Em 1994, quando eu fazia estágio, eu escrevia com máquina de escrever. Depois, quando eu cheguei mesmo a trabalhar, porque eu fiquei um ano fora do Brasil, já era computador. A maior evolução mesmo é a internet. A internet veio pra fazer você ficar mais rápido, ela ajudou muito. É uma ferramenta que facilitou muito a vida do jornalista e a busca pela informação. Ao mesmo tempo ela meio que acomodou. Porque daí você tem tudo na mão, você não vai muito atrás.
JE: Quais características você acha que seriam essenciais para o jornalismo impresso continuar tendo credibilidade? E como manter o público interessado no material?
A: Eu acho assim, nós temos mais tempo para apurar a matéria. Então o público até pode ler na internet uma parte, mas ele quer ler tudo, ele vai continuar fiel a isso. Tudo começa com uma boa apuração, se você não fizer uma boa apuração, a matéria pode se perder. Mas você também tem que ter muito cuidado com aquilo que você está apurando. Eu acho que a única coisa que todos os jornais estão pecando é a maneira gráfica que não está muito atrativa ao leitor. Eles precisam remodelar isso. Quando não tem foto, é muito ruim porque o leitor não tem interesse. Então você tem que ter uma boa apuração e uma boa aparência, o visual também tem que atrair.
JE: Quais características o jornalismo impresso tem que o faz diferente das outras áreas jornalísticas?
A: Eu acho que é credibilidade, o tempo maior para apurar, aquela coisa mesmo de você pegar o jornal para ler. Muita gente lê o jornal tomando o café da manhã, muita gente lê enquanto está indo trabalhar, no ônibus. Em São Paulo, no metrô, é muito comum ver pessoas lendo jornal. E a partir do momento que você não tem uma tecnologia, como a internet, disponível 24 horas por dia, você tem outros meios de ter informação. Mas eu acho que o que difere mesmo é a possibilidade do leitor ter uma matéria mais completa. E o principal mesmo é a credibilidade.